Coluna Fragmentos: Boticas e farmácias | aRede
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Coluna Fragmentos: Boticas e farmácias

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

O JM de 10 de julho de 1962 publicou anúncio da Farmácia Ideal, estabelecimento localizado na Avenida Vicente Machado
O JM de 10 de julho de 1962 publicou anúncio da Farmácia Ideal, estabelecimento localizado na Avenida Vicente Machado -

João Gabriel Vieira

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De acordo com Epaminondas Holzmann, em “Cinco Histórias Convergentes”, a primeira farmácia de Ponta Grossa surgiu no ano de 1865 e pertencia a Amando Rodrigues Pereira da Cunha. Em 1882 Antonio Solano Batista abriu outro estabelecimento dessa natureza na cidade, ganhando prestígio entre a população local graças a sua atuação como farmacêutico.

Até essa data, o comum era que os ponta-grossenses recorressem aos curandeiros, as benzedeiras ou as comadres-atendentes sempre que eram acometidos por alguma moléstia ou mal-estar. Os mais abonados podiam ainda procurar os serviços dos drs. Joaquim de Paula Xavier ou Javert Madureira, médicos radicados em Castro. Holzmann cita ainda as boticas pertencentes a Bonifácio Vilela e a Reinaldo Silveira e que, antes das farmácias também atendiam a população local.

As boticas surgiram no Brasil logo após a chegada dos europeus, no século XVI. De início, os colonizadores buscaram recursos junto a farmacopéia brasileira e, nesse sentido, os remédios e beberagens produzidas pelos pajés das tribos com as quais mantiveram contato serviram para aliviar suas dores e doenças. Registros históricos indicam que o primeiro boticário a atuar na colônia foi o português Diogo de Castro, em 1549. Depois dele, os boticários se tornaram comuns e se multiplicaram pelo território brasileiro.

Durante os séculos coloniais, o destaque ficou por conta dos jesuítas. Dedicados a catequização e a educação, tais religiosos instalaram boticas e enfermarias em seus colégios e conventos, atendendo tanto europeus quanto indígenas e negros escravizados. A mais famosa botica jesuíta da colônia ficava em Salvador. Era de lá que inúmeros remédios manipulados pelos religiosos eram produzidos e distribuídos no território brasileiro.

Até 1640 as ações dos boticários no Brasil estavam vinculadas a uma perspectiva de caridade. A partir dessa data, o rei de Portugal autorizou a abertura de boticas com fins comerciais. Na maioria das vezes, os proprietários desses estabelecimentos não tinham formação específica, atuavam a partir de empirismo puro, conheciam o poder curativo de alguns medicamentos e dominavam práticas rudimentares de sangrias, correções de fraturas e outras terapias próprias daqueles tempos. Até o século XIX foi bastante comum a existência de estabelecimentos que comercializavam secos, molhados e, ao mesmo tempo, ofereciam drogas e medicamentos para humanos e também para animais. Nesses casos, o comum era que os medicamentos fossem manipulados pelo boticário diante dos próprios pacientes.

Foi somente em meados do século XIX que as farmácias começaram a disputar espaços com as boticas. Em 1835, a criação da seção de farmácia na Academia Imperial indicava o início de novos tempos, nos quais os remédios industrializados começavam a se impor diante das fórmulas manipuladas por boticários.

A partir das primeiras décadas do século XX as farmácias passaram a contar com um número cada vez maior de consumidores em todo o Brasil. Pesou para tanto, o avanço da indústria farmacêutica, a maior confiabilidade conquistada pelos remédios apresentados em cápsulas, caixas, cores e nomes específicos e o discurso da confiabilidade científica dos laboratórios que produziam tais medicamentos. Em Ponta Grossa, cidade onde o discurso da modernidade teve forte ressonância no início dos Novecentos, as farmácias foram rapidamente incorporadas ao cotidiano local e passaram a contar com grande popularidade entre os princesinos.

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No século XX

Tanto no decorrer da Primeira quanto da Segunda Guerra Mundial a indústria química e os conhecimentos da medicina avançaram consideravelmente. A necessidade de se recuperar os soldados que lutavam nas frentes de batalha, fez com que novas terapias, práticas e medicamentos evoluíssem rapidamente. Tais avanços favoreceram uma industrialização em massa dos medicamentos. Percebendo isso, os grandes laboratórios farmacêuticos investiram pesado em publicidade e ampliaram os mercados consumidores em todo o mundo. Nascia assim um dos mais fortes ramos industriais do século XX.

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João Milasch

Sérvio de nascimento, Milan Milasch (ou João Milasch como ficou conhecido) chegou a Ponta Grossa no começo do século XX. Fundou a Farmácia Central (na época a maior do interior do Paraná) e passou a produzir em seu laboratório inúmeros medicamentos que logo se popularizaram, como o Vermifugol Milka, a Essência Milka, o Bálsamo Montenegrino, o Elixir Hércules, o Xarope Peitoral etc. Sua atuação define claramente o momento em que as boticas ponta-grossenses e seus remédios manipulados caso a caso perderam espaço para as farmácias e para os medicamentos produzidos em escala industrial.

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O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 15 de agosto de 2010.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

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